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António Amaral Tavares lança livro «Um Dia, Um Homem»

António Amaral Tavares, poeta, colaborador da Fundação ADFP, lançou neste último sábado, dia 21 de setembro, o seu novo livro «Um Dia, Um Homem». O evento decorreu no Hotel Parque Serra da Lousã, com casa cheia.

24 September 2024 | Social, Cultura, Eventos, Fundação ADFP

“Nesta obra, António Amaral Tavares demonstra a sua enorme criatividade numa construção metafórica em que a sinestesia (a fusão dos sentidos e das sensações) domina.” Sintetizou a Professora Graça Capimha que acrescentou “ António Amaral Tavares é “ um caso sério na literatura portuguesa contemporânea."

Estiveram presentes também manuel a. domingos e Ana Catarina Martins, da Editora Medula.
O autor conta também já com mais 9 obras de poesia publicadas, de entre as quais: "Trabalhos em Vidro" (2012), "Talvez Seja Essa Certeza" (2014), que lhe atribuiu o prémio Diógenes desse ano; "Movimento de Terras" (2016); "Animais Incluídos" (2016); "Os Nomes dos Pássaros" (2017); "Retratos de Nova Iorque" (2018); "A Faca Que Une" (2020); "As Casas Devoradas Pela Noite", antologia (2022).

A apresentadora do evento de lançamento da obra, Professora Graça Capinha , da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, salientou que "Numa prosa caracterizada pela enorme elegância a que já nos habituou na sua escrita, António Amaral Tavares traz-nos, no seu novo livro «Um Dia, Um Homem», um conjunto de pequenas narrativas de enorme complexidade em que o minimalismo, marcado por uma linguagem seca e dura, como diria Ezra Pound, e o jogo entre a perspetiva e a voz dão forma a um texto em que a dimensão visual toma a dianteira.

Não foi, por isso, por acaso que, ao ler estes pequenos contos, as imagens famosas de dois grandes pintores começassem a surgir: Nighthawks(Falcões na Noite) e Morning Sun (Sol da Manhã), de Edward Hopper, no seu confronto entre a escuridão e a luz (palavra que funciona quase como leitmotiv no livro); e Portrait of the Artist (Pool with Two Figures) (Retrato do artista [Piscina com duas Figuras), de David Hockney, em que a figura do duplo (o Doppelgänger, da grande tradição literária, que assombra a vida de alguém, e que Freud nos veio ajudar a perceber com termos como inconsciente e super-ego) — figura nua que só aparentemente reflete dentro de água a figura vestida, em pé, junto à piscina — ajuda a criar uma ambiência de lusco-fusco em que realidade e sonho/imaginação intencionalmente se fundem.

Essa ambiguidade, que o/a leitor/a não consegue nunca resolver, é a grande marca do que, em literatura, chamamos "fantástico", e vem-nos do grande inventor do gótico, o norte-americano, também grande cultor do conto, Edgar Allan Poe, que certamente António Amaral Tavares conhece.

Para essa ambiguidade contribui também, no nosso autor, o tratamento do discurso direto, já que, muitas vezes, o narrador heterodiegético (fora do universo ficcional) se faz voz de uma personagem dentro da história e vice-versa.

Pequenas histórias do quotidiano, misturadas com crimes imaginários, ou talvez não, confluem sempre para fins surpreendentes e sempre em aberto, numa espécie de viagem existencialista pelo absurdo da vida, fazendo, muitas vezes, lembrar Kafka, também em certos laivos de humor inesperados. Cria-se uma grande tensão dramática, mas não há desfecho, ou há um desfecho que leva a nada.

Tal como na sua poesia, também nesta obra, António Amaral Tavares demonstra a sua enorme criatividade numa construção metafórica em que a sinestesia (a fusão dos sentidos e das sensações) domina.

Autor difícil pela sua complexidade e pela coragem de desafiar o/a seu leitor/a a resistir à visão dominante do mundo — à cegueira das palavras que nos dão forma ao que chamamos real, como nos ensinou Rimbaud — António Amaral Tavares inscreve-se na esteira da “outra tradição”, do experimentalismo modernista, e é já, claramente, um caso sério na literatura portuguesa contemporânea."

O autor agradeceu a todos os presentes, fechando o lançamento da sua nova obra com chave de ouro pois esta edição já se encontra esgotada.

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