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Um César nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016

Formando da Guiné-Bissau residente na Fundação ADFP

22 September 2016

César Lopes Cardoso, tem 36 anos, reside na Fundação ADFP, de Miranda do Corvo, onde recebe formação profissional e cívica, e vai participar nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016, de 7 a 18 de setembro, correndo a prova rainha da velocidade, os 100 metros, em representação da Guiné-Bissau.


César Lopes Cardoso reside há alguns meses na Fundação ADFP onde, com mais 5 guineenses, recebe formação profissional e cívica, durante dois anos, graças a uma parceria da instituição mirandense com a UNDEMOV (Associação Nacional da Guiné de pessoas com deficiência motora ou neurológica).


César Lopes Cardoso, que tem uma deficiência motora no braço esquerdo, não é um novato nestas andanças, pois já participou nos Jogos Paralímpicos de Londres 2012 e é o único atleta da Guiné-Bissau que estará nos Paralímpicos Rio 2016, ambas as vezes por convite ao seu país.


No entanto é a segunda vez que a Fundação ADFP tem um atleta, já que em Atenas 2004 esteve lá o cavaleiro português Carlos Baptista, na modalidade de equitação, na disciplina de “dressage” (ensino).


Na “pista” de 100 metros do Corvo, César Cardoso treina a velocidade, e num sprint final foi cronometrado por Francisco Silva em 11 segundos e 95 centésimos:

“Ainda podemos baixar os tempos, temos a questão da marcação, com o atleta a sair, a arrancar já depois de eu ter dado o sinal. Agora é uma questão de treino”, diz o treinador.


César Cardoso, que treina diariamente há já dois meses, trabalha a velocidade com intensidade, num treino metódico [diário] na “pista do Corvo”, e no Ginásio da Fundação, sempre com Francisco Silva ao lado, treina a parte do reforço muscular:

“Isso no sentido de potenciar mais aquela velocidade de explosão, a velocidade e a capacidade de explosão, que é o que nós queremos ver num velocista acrescenta”.


O facto de César não treinar numa pista de tartan, a mais próxima é em Coimbra, não preocupa o atleta:

“O tartan facilita muito mais o atleta, com as botas com pitons é muito mais fácil fazer o sprint, devido à aderência, do que no espaço improvisado que conseguimos arranjar, mas isso não descarta a possibilidade de eu dar o meu melhor”, revela.


Apesar das dificuldades de treino o atleta diz que vai ter grandes hipóteses.


“Vou participar na prova dos 100 metros, onde vou ter grandes hipóteses, apesar das dificuldades no treino, e onde espero dar o meu melhor e conseguir um bom tempo. O povo da Guiné-Bissau espera muito de mim, que eu faça alguma coisa importante e quero corresponder”, acrescenta, confiante.


E Francisco Silva explica o porquê de outras limitações:

“O treino do César não pode ser feito numa perspetiva global, até porque ele não consegue treinar a parte superior de per si, por causa da limitação do braço, portanto trabalhamos muito a parte das pernas, e na zona inferior do tronco, digamos assim”.


César é daqueles que não desanima face às adversidades e mostra-se mesmo reconhecido por ter conseguido da parte da Fundação as melhores condições possíveis:

“Nesse aspeto só tenho a agradecer à Fundação ADFP pela forma como estão a tratar-me, desde que cheguei cá. Falei-lhes da possibilidade de ir aos Paralímpicos, mostraram disponibilidade e arranjaram-me um treinador que me está a acompanhar diariamente muito bem, e ao qual reconheço todas as capacidades por aquilo que está a fazer, de tal modo que não sinto a diferença de trabalhar com ele ou com outro treinador, até porque é uma pessoa capaz”.


César Cardoso, para além do treino efetuado após as aulas, pelas 17h00, fez questão de pronunciar-se sobre a formação profissional e cívica que a Fundação lhe presta, bem como aos restantes cinco compatriotas guineenses:

“A formação está a correr muito bem, porque a Fundação ADFP nos acolheu da melhor maneira, sentimo-nos como se estivéssemos em casa. Estamos satisfeitos pela formação que estamos a receber, espero que nos ajude muito a reforçar a capacidade para, quando chegarmos ao nosso país, podermos dar um programa à nossa organização [UNDEMOV], nesse sentido”.


Como César lembrou bem, o objetivo da parceria entre a Fundação ADFP, de Miranda do Corvo, e a UNDEMOV, de Bissau, ficou bem esclarecido numa nota de imprensa da instituição mirandense, a quando da chegada dos formandos guineenses, que após os dois anos de formação regressarão ao seu país:

“A pobreza da sociedade e as fragilidades do estado social da Guiné-Bissau, colocam as pessoas com deficiência em situações de extrema pobreza, que só se alterarão se aprenderem a mobilizar-se para assumir um papel económico que lhes garanta rendimentos mínimos e ocupações dignas. As graves dificuldades que as pessoas da Guiné enfrentam não podem deixar os portugueses indiferentes e obrigam-nos a assumir um papel de ajuda, que esteja de acordo com o nosso passado histórico. Portugal não pode lavar as mãos e ficar na indiferença”.

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