Fundação ADFP inaugurou em Miranda do Corvo
04 October 2016
Autêntico hino à tolerância religiosa e não só, e à paz entre os povos, o primeiro Templo Ecuménico Universalista do Mundo, foi inaugurado pela Fundação ADFP em Miranda do Corvo, numa cerimónia presidida pelo Ministro Adjunto Eduardo Cabrita, que se fez acompanhar por Catarina Marcelino, Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, dia 11 de setembro, numa homenagem simbólica às vítimas das Torres Gémeas em Nova York e do terrorismo fundamentalista, perante algumas centenas de pessoas.
O primeiro acto simbólico desta cerimónia, o descerrar da lápide, teve lugar junto ao portão da entrada exterior de acesso ao Templo, perante dezenas de convidados, entre os quais os dirigentes autárquicos, com Miguel Baptista à cabeça, os deputados Fátima Ramos, Maurício Marques e Pedro Coimbra, e o Reitor da Universidade de Coimbra, João Gabriel, após crianças e adultos moldarem as suas mãos num moral criado para o efeito e onde a lápide se situa, à semelhança do que já acontecera no lançamento da 1ª pedra, a 11 de setembro de 2015.
O “arquiteto” que idealizou este Templo, em forma de pirâmide de base quadrangular, com a mesma altura de 13m 40 do Templo de Salomão, foi Jaime Ramos, presidente do Conselho de Administração da Fundação ADFP, que avançou para a inauguração na data anunciada, apesar da falta de eletricidade. E nem a deficiente aparelhagem de som fornecida pela autarquia, que inviabilizou a compreensão cabal das muitas leituras efectuadas e impediu a instalação dos conteúdos de cada religião no interior do Templo, conseguiu tirar brilho e significado a uma cerimónia que vai marcar profundamente o concelho e a Região Centro e, quiçá, o próprio país, que o Ministro Eduardo Cabrita definiu como “terra de liberdade, de solidariedade e de abertura ao mundo, como estamos a mostrá-lo até com a forma de resposta à crise dos refugiados ”.
“Temos em várias regiões do mundo a xenofobia, o sectarismo religioso, a intolerância política, o ódio à liberdade, que marcaram um lugar e é importante que o 11 de setembro seja assinalado com um templo para todas as religiões e até à liberdade de não a ter: a liberdade religiosa é um direito fundamental, um valor que no quadro de exercício da igualdade de direitos, no quadro da valorização da cidadania, que é para nós essencial afirmar”, afirmou.
“Em Miranda do Corvo, concluiu, marca-se esse tempo, marca-se esta forma de ser português num mundo global”.
“Esta é uma homenagem às vítimas do 11 de setembro”
Já o anfitrião, Jaime Ramos, referiu que “a ideia aqui é fazer uma reunião entre o diálogo religioso, e até crentes e não crentes, mas não numa lógica de sincretismo, de fazermos a fusão de todas as religiões, pelo contrário, uma ideia de que cada religião deve ser forte a pregar de acordo com os seus princípios, com a sua verdade, fazendo homens melhores e uma humanidade melhor, que as religiões não devem ser a base para guerras e conflitos, rumo à barbárie”.
“Esta é uma homenagem às vítimas do 11 de setembro e uma grande esperança de tolerância em respeito por tudo o que é diferente, para que possamos construir um mundo em paz”, sublinhou.
Jaime Ramos referiu ainda que esta é a 1ª fase do projecto, porque , “proximamente, mal tenhamos a ligação de electricidade da própria EDP, teremos um Observatório das Religiões, em que vamos mostrar os conteúdos, para que as pessoas passem a conhecer muito bem as 15 propostas de visão religiosa que existem no mundo”, afirmou, acrescentando:
“Ao mesmo tempo vamos mostrar também os grandes conflitos que, ao longo de séculos e milénios, acabaram por fazer muitas vítimas, graças à ortodoxia e aos fundamentalismos, e depois a barbárie com pessoas que se dizem religiosas mas não tem nada a ver com a religião”.
Jaime Ramos confirmou que “os conteúdos deverão estar aptos no fim de novembro ou princípio de dezembro, esperando que a EDP traga a electricidade e nós possamos abrir. Podemos escolher uma data muito simbólica, podia ser por exemplo, o Solstício de inverno, em que todos os dias ao meio-dia solar, o sol incide no centro do templo”.
Ausência notada no almoço no Hotel Parque Serra da Lousã, que antecedeu a inauguração, Miguel Baptista considerou “uma honra” ser no seu mandato que se inaugura o Templo:
“Deve-se a si como visionário, uma grande contribuição para o concelho, mas esta será das obras mais relevantes”, afirmou.
“É um orgulho ter uma organização como a Fundação neste concelho”
“Como já comentei com alguns amigos é um orgulho ter uma organização como a Fundação, neste concelho, e esta obra é uma referencia local e regional”, acrescentou, antes de concluir que “apesar das nossas divergências há algo que nos une que, é o sermos mirandenses que queremos trabalhar por esta terra”.
O abraço sentido entre Miguel Baptista e Jaime Ramos selou esta cerimónia de inauguração do Templo, presenciada por dezenas de pessoas, para além dos representantes de 15 religiões do mundo inteiro, entre as quais as três monoteístas [judaísmo, cristianismo e islamismo], e aberta aos não crentes, ateus e agnósticos.
Várias leituras foram efectuadas, não só do texto de apresentação do Templo, de Jaime Ramos, pela Eng.ª Gabriela Andrade e o Arqº André Pimental, mas também da Carta pela Compaixão.
Idealizada em 2008 por Karen Amstrong, reconhecido especialista em História das Religiões, a Carta pela Compaixão foi lida por Quirino São Miguel, Vice-Presidente do Conselho de Administração da Fundação ADFP, Vasco Costa, chefe de secretários clínicos da instituição onde reside, Mhuammad, um guineense muçulmano, aluno da Formação Profissional, Cristina Inácio, do Lar de Infância e Juventude e Samia Ibrahim Musa Bilal, utente do Centro de Instalação de Refugiados “Paz/Peace” da Fundação, em Penela.
Paulo Mendes Pinto, Embaixador do Parlamento Mundial das Religiões e Diretor do Instituto Al-Muhaidi de Estudos Islâmicos, numa breve alocução antes da leitura, definira o que é hoje a Carta pela Compaixão:
“Uma verdadeira instituição que procura desenvolver esse simples sentimento de sair de si e estar com e no “outro”. É a esse sentimento de Fraternidade que o projecto do Templo Ecuménico Universalista se junta”.
Almoço de inauguração com recados de Jaime Ramos ao Ministro
No almoço de inauguração do Templo, no Hotel Parque Serra da Lousã, Jaime Ramos não deixou de chamar à atenção de Ministro e Secretária de Estado, para os problemas do concelho e da própria Fundação, em jeito de recado ao Governo, sobre a urgência de uma solução para o Ramal da Lousã, os Cuidados Continuados, o corte do Apoio Domiciliário aos doentes mentais em seis concelhos que se poderia alargar aos sem abrigo de Coimbra [Projecto Sem Abrigo Zero], o corte dos Professores destacados na Fundação, ao contrário de outras instituições do concelho.
Assumindo-se como “curador das boas causas” junto do Governo, Eduardo Cabrita começou por defender que “aquilo que está em causa é a forma de encontrarmos, por vezes discutindo e divergindo, a forma mais eficaz, a melhor forma de prestar serviço à comunidade e fazê-lo com a melhor utilização dos recursos públicos”.
“Aquilo que marca a nossa ação governativa é uma ação de confiança, primeiro na dignidade humana, enquanto valor primordial. Os números tiveram durante alguns anos à frente das pessoas. Aquilo que marca a nossa diferença é a atenção à preocupação com as pessoas, à dimensão de solidariedade, e isto está em perfeita sintonia com os valores que aqui enuncia”, respondeu o Ministro.
Após considerar a valorização da educação uma prioridade do Governo, já em relação às questões da saúde, referiu que “a boa utilização dos recursos públicos é uma prioridade” , mostrando-se certo que “terá já sobre estes temas contactado a ministra da saúde e que o Dr. Adalberto Campos Fernandes, pelo seu percurso de vida, que associa a experiência cívica, a experiência de gestor e a formação de médico, é particularmente qualificado para valorizar essa boa utilização de recursos públicos, sobretudo relativamente àqueles que têm menos capacidade de protestar, de fazer ouvir a sua voz, e aqueles que são marcados pela doença mental, pela exclusão social, como a comunidade dos sem abrigo, são aqueles que, na nossa sociedade, menos têm capacidade de ter lobby próprio, de ter voz própria, que afirme a sua vontade”.
Quanto à educação, Eduardo Cabrita afirmou que “as notícias que eu tenho não são bem essas, mas farei todo o esforço, designadamente quanto aos destacamentos. Eram aliás no sentido do aumento dos destacamentos para a instituição, mas veremos, iremos aqui conferir qual é que é a informação adequada, não o deixarei de fazer ,independentemente de não ser esse o quadro direto da minha deslocação aqui”.
“Teremos 5ª feira, um conselho de ministros extraordinário, dedicado exclusivamente aos temas da saúde, e que não é por acaso, decorrerá na cidade de Coimbra. Estou certo que aí encontraremos respostas, não digo que especificamente para os termos muito concretos, de que serei bom portador das suas mensagens que aqui trouxe”, prometeu.
Finalmente, Eduardo Cabrita, reconheceu e elogiou a Fundação:
“Há um trabalho notável, em várias frentes, que a Fundação desenvolve, já estivemos aqui há uns meses a propósito de um outro tema, aquilo que é uma experiência singular de solidariedade de dimensão global,na capacidade que, aqui houve de acolher os primeiros grupos de refugiados que em Portugal procuraram paz, liberdade, fugindo de zonas em que a guerra destruiu vidas, e que aqui em Penela e Miranda do Corvo buscam um novo tempo para as suas vidas”.