IX Capítulo da Real Confraria da Matança do Porco Com 4 novos confrades A novidade foi a visita ao Observatório das Religiões
07 December 2017 | EcoMuseu
O IX Capítulo da Real Confraria da Matança do Porco entronizou 4 novos confrades, durante a recriação da matança tradicional, pelo Grupo Etnográfico das Tecedeiras dos Moinhos, numa jornada cuja novidade foram as visitas ao Observatório das Religiões, no Templo Ecuménico Universalista, e também à queijaria, fumeiro e alambique Terra Solidária, no Parque Biológico da Serra da Lousã.
Os 4 novos confrades foram Alcino Bento, Hugo Vaz, Rita Carvalho, e o benjamim Raúl Sampaio, o mais jovem confrade desta Confraria. Todos eles prestaram juramento enquanto confrades, e foram entronizados por João Sá Marta, tendo recebido as medalhas pelas mãos de Quirino São Miguel.
Um evento cultural, de preservação das tradições, mas também solidário, não fosse a entidade promotora uma prestigiada Instituição Privada de Solidariedade Social. O custo de participação no Capítulo revertia em 10% para a valência de apoio a crianças e jovens “em família”, na Fundação.
Estiveram presentes mais de uma centena de pessoas, e representação de 12 confrarias, tendo sido para três uma estreia neste programa, uma mais recente no movimento confrádico – Confraria do Bucho Recheado de Pedrógão Grande, e também as Confrarias do Cabrito Estonado de Oleiros, e a Confraria da Maçã, de Moimenta da Beira.
O Presidente do Conselho de Lavradores, Jaime Ramos, foi o primeiro a tomar a palavra, para agradecer a presença de todos, e em especial do pároco mirandense, Padre Ferrão, e de Olga Cavaleiro, Presidente da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas.
O seu discurso começou com uma breve apresentação da Fundação ADFP: “instituição de solidariedade social, sem fins lucrativos, com estatuto de utilidade pública, e valência de formação profissional”.
“Somos uma das 10 maiores organizações no distrito, com 700 pessoas, 500 das quais a viverem connosco em regime residencial, com um convívio intergeracional, que aposta muito na inclusão, desde refugiados muçulmanos, à etnia cigana”.
Jaime Ramos falou também do contributo para o desenvolvimento local, e do conceito do Trivium, dedicado à liberdade, igualdade e fraternidade, que começa por abarcar o Parque Biológico da Serra da Lousã, que representa o corpo e a igualdade do Homem perante todos os seres vivos, em que o Homo Habilis começa a utilizar as mãos, e o Homo Sapiens, que descobre a liberdade de criar; abrange também o Espaço da Mente, que declara a liberdade de amar, a liberdade de criar, e a liberdade da alma, que permite concluir que depois da morte há vida. E, finalmente, o Templo Ecuménico Universalista, que representa, independentemente da fé de cada um, o espírito, e a fraternidade.
Uma confraria cristã que começou na luta contra o fundamentalismo da ASAE.
Como não podia deixar de ser e se recorda a cada ano que passa, Jaime Ramos falou da origem da Confraria para contrariar o fundamentalismo da ASAE, que pretendia proibir a tradicional matança do porco.
“Uma referência ao nosso novo pároco, o Padre Ferrão, a quem desejo sucesso pessoal e de missão pastoral, e para reafirmar que somos uma confraria cristã: comemos porco, ao contrário de judeus e muçulmanos que não têm o prazer de saborear tal carne, o porco que está na base desta confraria, e por isso mesmo temos a Cruz Branca no nosso estandarte”.
Jaime Ramos convidou depois Olga Cavaleiro, da Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal, na qualidade de Presidente da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, que pela primeira vez veio a um Capítulo da Real Confraria da Matança do Porco, a tomar a palavra.
“Saio daqui com o coração cheio, e a força que sai dentro de si – disse, referindo-se a Jaime Ramos, e aos confrades e confreiras – e foi como ser humano que aqui vim afirmar a minha identidade, de mulher da Região Centro, não só do Baixo Mondego, e vai até à Serra, à torre do desafogo, hoje vim aqui como ser humano da Região Centro, vista como um todo. Trabalhar com o diferente (social, física, seja qual for), e é difícil fazê-lo”, considerou.
"A Fundação ADFP tem muitos projetos, e vai depois às religiões, soma de todas as partes no Templo Ecuménico. Há dez anos nasceu esta confraria, por causa do fundamentalismo. A ideia é que as nossas crianças e jovens não sabem a carne que têm no prato, vinda de uma embalagem feita pela fábrica, nem sequer sabem se é cabra ou cabrito, e muitas vezes deixam-nas no prato. O animal morreu na esperança de alimentar por mais um dia, foi morto para nos dar vida”, acrescentou.
“Contra a ASAE, muito mais fez sentir na carne, que não tem literacia alimentar. Saibamos nós cumprir essa missão, para levarmos a bom porto a Real Confraria da Matança do Porco, com todos os desafios, incluindo os sociais”, concluiu.
Recém criada Confraria do Bucho Recheado, de Pedrogão Grande, marcou presença.
A mais recente confraria marcou presença, vinda de Pedrogão Grande. Teresa Nunes e Ana Maria Tavares, da direção da Confraria do Bucho Recheado de Pedrogão Grande, vieram representá-la, na companhia da confreira Liliana Alcobia.
Quanto ao Bucho Recheado, disse Teresa Nunes, “é uma receita muito antiga, com mais de cem anos, um bucho de porco recheado com várias carnes, pão e ovo”.
Criada a 24 de julho de 2016, com Sede na Santa Casa da Misericórdia de Pedrogão Grande, já tem no entanto 49 confrades.
“Nós vivemos de perto os incêndios da zona, lidámos mesmo com pessoas afetadas que foram para a Santa Casa da Misericórdia, com quem trabalhamos na organização, donativos, e distribuição”, diria a confreira.
“Foi muito trabalho para fazer, e agora há que recuperar”, concluiu.
Olga Cavaleiro, a Presidente da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, disse que “é uma federação que está bem, com 86 confrarias, com muita vitalidade e iniciativas”.
“Estou aqui em homenagem a tudo aquilo que a nossa gastronomia tem de património imaterial. Não é só o produto, mas tudo aquilo que fazemos até chegarmos ao produto”, concluiu.
Este IX Capítulo da Real Confraria da Matança do Porco começou com o frio da manhã, com o habitual “Desdejum”, no Parque Biológico da Serra da Lousã, ao ar livre, seguindo-se a missa de Padre Ferrão, na Igreja Matriz, auxiliado pelo diácono Lídio Gonçalves, visita ao Templo Ecuménico, e, no interior, ao Observatório das Religiões. Contou ainda com uma visita ao fumeiro e queijaria, cujos produtos estiveram ao alcance de todos.
Após a entronização e a prova do sangue cozido em cima do animal, foi a vez do “Jantar da Matança”, todo regado com vinho da Fundação, Alpedrinha, e Terra Solidária, sopa de nabiças, lombo de porco com castanhas, serrabulho e os saborosos arroz doce, tigelada, nabada, e mirandenses, num convívio que terminou quase ao fim da tarde, no restaurante do Hotel Parque da Serra da Lousã.