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Fundação ADFP assinou contrato com empreiteiro e deixou recados aos políticos

Lançamento da 1ª pedra do futuro Hospital Compaixão

23 June 2016

A cerimónia informal de lançamento da 1ª pedra do futuro Hospital Compaixão foi muito concorrida tendo tido a presença de funcionários, colaboradores, dirigentes e amigos da fundação ADFP, no dia 5 de junho, tendo ficado marcada pela ausência de qualquer representante da Câmara Municipal.


Estiveram presentes vários autarcas eleitos pelo PSD e os presidentes das juntas de Freguesia de Miranda e Vila Nova.


O anfitrião, Jaime Ramos, presidente do Conselho de Administração, não deixou de enviar um forte recado aos políticos, para memória futura, quando disse que, uma vez pronta a obra, “é preciso que os políticos percebam que este projecto pertence a uma entidade que está a investir sem fins lucrativos, para ajudar as pessoas, para combater o sofrimento e apoiar o Estado a garantir melhores serviços de saúde”.


Depois da assinatura do contrato de empreitada, no valor de 3,820 milhões de euros (mais I.V.A. À taxa em vigor), com o Dr. Bruno Sousa, da Odraude – Construção Civil e Obras Públicas, Jaime Ramos desejou felicidades na execução da obra, “para que daqui a dois anos a possamos inaugurar esperando que não surjam muitos mais entraves no processo”.


Uma vez a obra pronta, seguir-se-á a fase de instalar equipamentos técnicos e todo o recheio para que o hospital possa funcionar.


Jaime Ramos recordou o cortejo de oferendas efetuado há quase 60 anos em Miranda para se construir um hospital. Lembrou o Dr. Jaime Ilharco que era o provedor da Santa Casa da Misericórdia, entidade promotora da iniciativa, e o papel do pai e avô, José Ramos e Jaime Ramos.


“Eu também estive envolvido no cortejo já que as crianças de Miranda foram mobilizadas para se exibirem num rancho infantil, cujo ensaiador era o Sr. Manuel dos Santos, o “Manel Fiscal”, que alguns de vocês conheceram”, afirmou.


"A construção não avançou e no 25 de abril de 1974, dos 17 distritos de Coimbra ,só Miranda e Mira não tinham hospital" e recordou que alguns desses hospitais só começaram a funcionar na década de oitenta.


“Lembro-me particularmente bem de dois, de Penela e Pampilhosa da Serra , porque fui eu em 1983, como presidente da ARS (Administracao Regional de Saúde), que os abri e pus a funcionar pela primeira vez depois de décadas fechados ." "Sabemos que podemos ter um edifício hospitalar e haver dificuldade em o pôr a funcionar ". "Tenho uma ligação afetiva muito grande a estes hospitais de proximidade pois trabalhei em vários , de Lousã a Tabua."


"Portugal ganhará se tiver um sistema de saúde bastante próximo das pessoas, e com a qualidade técnica necessária”, afirmou.


“Estamos perante uma instituição , a ADFP, tal como todas as IPSS (instituições de solidariedade social) que não se podem esquecer que o seu primeiro objetivo é o de prevenir ou atenuar o sofrimento das pessoas."


" O lançamento da construção deste hospital insere-se claramente nessa visão de tentar melhorar a qualidade de vida das pessoas”, acrescentou.


Jaime Ramos recordou as décadas de '60/70, “período com várias perspetivas e alternativas ideológicas , do comunismo do Bloco Soviético, ao capitalismo a sério, liderado pelos americanos, e a visão europeia, em particular do Norte da Europa, que era o sonho da social-democracia ou o socialismo democrático. Uma terceira via, intermédia entre a do Estado dono de tudo, ou dos privados fazerem negócio com tudo, e ser tudo negócio. Infelizmente este debate esqueceu-se“, lembrou.


Assumiu-se favorável a essa posição intermédia, que disse vir “duma visão utópica do socialismo, nos países nórdicos sociais democratas e em Portugal, dos socialistas na linha de Mário Soares , António Arnaut e António Sérgio, com uma perspetiva da economia social, do cooperativismo e das instituições sem fins lucrativos, que deviam ser elas, a contribuir para uma sociedade melhor e mais justa."


Recordou o programa do PS de 1974 "na defesa da auto-gestão e co-gestao" a fazer uma sociedade melhor, mais justa, mais equilibrada, com menos desigualdade, mais liberdade, assente nessa capacidade de colaboração entre o Estado e estas instituições sem fins lucrativos, dinamizando a economia social ou seja o terceiro sector , entre a propriedade capitalista, privada, e a comunista, estatizada.


Considerou o desenvolvimento da economia social, sem fins lucrativos, como sendo extremamente importante, porque nós perdemos essa dimensão de discutir ideologias e de analisar, hoje, soluções alternativas: nem tudo tem de ser estado, nem tudo tem de ser negócio lucrativo.


“Sinto que há políticos em Portugal que não têm a mínima noção deste debate, que nunca leram nada sobre a História e que não têm, por essa razão, uma perspetiva de alternativas na criação do futuro. Alguns acham que tudo acabou com a queda do muro de Berlim, e que nada mais existe. Este debate deve ser feito, e nós hoje estamos aqui a fazê-lo, não em teoria, mas lançando investimento e uma obra concreta "considerou. "Sinto que hoje estamos a fazer socialismo, como diria Nuno Filipe "afirmou .


“Hoje fala-se, às vezes, a propósito do primeiro-ministro, dos otimistas irritantes. Eu tenho uma noção de grande realismo, às vezes até sou um bocado pessimista, mas sou um utópico que faz, um sonhador que concretiza”, disse.


“Isso significa que sei que estamos a iniciar o investimento mais arriscado que a ADFP já fez... Mas também sei que, quando nós tivermos o hospital Compaixão, na zona de Coimbra há um conjunto de instituições muito interessantes: a Misericórdia da Mealhada, a Fundação de Avelar/Ansiao, a Fundação de Oliveira do Hospital e nós, com hospitais particulares que não são do Estado, mas defendendo e visando o interesse público e trabalhando sem fins lucrativos”.


"Esta cintura de hospitais sem fins lucrativos podem e devem ser importantes parcerias para o Estado concretizar um SNS ( Serviço Nacional de Saúde ) de qualidade: na saúde nem tudo tem de ser estado ou negócio lucrativo" vincou.


“Subi aqui para cima [da mesa onde se assinou o contrato] para fazer esta reflexão convosco, recordar as pessoas que há 60 anos estiveram envolvidas neste sonho de um Hospital em Miranda, para vos agradecer a presença, do Carlos Torres á Ines Ramos que hoje fazem anos. No fundo, estamos todos como a filha do nosso Jorge Caetano, a Esperança, com imensa esperança que, dentro de 2 anos, todos estejamos novamente aqui a inaugurar as obras, que tudo corra bem, e que sejamos capazes de pôr o hospital a funcionar. Com o vosso apoio vai correr”, concluiu.

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